Embalagens Tetra Pak®: recicláveis ou nem por isso?

Ainda hoje muita gente tem dúvidas onde colocar as embalagens usadas dos famosos “tijolos” que a Tetra Pak® lançou há mais de meio século atrás: no contentor azul, destinado às embalagens de cartão? Ou no amarelo, das embalagens de plástico e metal?

Na realidade, e de acordo com o seu fabricante, as embalagens Tetra Pak® consistem, em média, em:

  • 73 % de papelão produzido a partir de madeira das florestas do norte da Europa - sendo assim um material reciclável;
  • 20 a 23 % de polietileno (derivado do petróleo), que garante a selagem e age como uma ‘cola’ entre os diferentes materiais;
  • 4 ou5 % de alumínio (bauxita), que constitui a barreira para o ar, os odores e a luz.

Com efeito, quando se iniciou a recolha destas embalagens no nosso país, existiram divergências quanto ao contentor mais adequado para a sua deposição, variando até a sua recolha de município para município. Mas após análise da situação, a Sociedade Ponto Verde e o Ministério do Ambiente optaram pela uniformização das sinaléticas a nível nacional e pela solução do contentor amarelo, tal como acontece na maior parte dos países europeus. Ao serem ali colocadas, as embalagens Tetra Pak® passam por uma triagem mais elaborada, sendo separadas do plástico e do metal em fardos específicos que depois são encaminhados para reciclagem. E, para reforçar a ideia, nos dois últimos anos a filial portuguesa da multinacional sueca (mas agora sedada na Suíça) lançou a campanha "Sim, é no amarelo!"

Mas as embalagens Tetra Pak® são mesmo 100 % recicláveis? Como é possível separar o papelão do polietileno e este do alumínio? Aqui está a grande questão, à qual a empresa responde afirmativamente.

 

Cada embalagem pesa, em média, 27 g (contra cerca de 450 g de uma garrafa de vidro), com 5,7 g de plástico e 1,3 g de alumínio. Ora no passado ano de 2009 foram produzidos 145 mil milhões de unidades, dos quais cerca de 27 mil milhões foram recicladas – ou seja menos de 20 %. O resto foi depositado em aterros, lixeiras ou incinerado.

 

Mas… mesmo esses 20 %? Como foram reciclados?

 

Segundo a Tetra Pak®,  há vários anos que trabalham para desenvolver uma forma eficiente para uma reciclagem em grande escala das embalagens. Por exemplo: apenas mergulhando e agitando os pacotes num grande recipiente de água fria é o suficiente para que o papelão se separe do polietileno e do alumínio; a pasta obtida é utilizada para a fabricação de vários produtos, tais como toalhas, caixas de ovos, sacos ou papel higiénico.

 

Mas o alumínio e o PE? A sua separação e reciclagem são bem mais complicadas e a informação disponível on-line não é nem muito clara nem objetiva quanto a esse ponto. Mas algumas hipóteses são colocadas, passando sempre pela trituração do composto:

  • o material é aquecido, exturdido e injetado em moldes, sendo usado para produzir peças diversas tais como cabos de pás, vassouras, mesas e cadeiras de jardim;
  • o material é prensado a quente, transformando-se numa chapa semelhante ao compensado de madeira e que pode ser usada na fabricação de divisórias, móveis, pequenas peças decorativas e telhas, materiais com grande aplicação na indústria da construção civil;
  • outra tecnologia, desenvolvida localmente no Brasil, trabalha com o processamento do composto num forno de plasma, onde a mistura é aquecida a altíssimas temperaturas numa atmosfera sem oxigénio para  preservação da qualidade do alumínio. Neste processo, as moléculas de plástico partem-se, transformando-o em parafina, enquanto o alumínio se funde e é arrefecido em lingotes de metal puro;
  • uma variante do processo acima consiste no aquecimento da mistura a tal temperatura que o plástico se evapora, enquanto o alumínio é recuperado intacto. Este processo não é propriamente de reciclagem uma vez que o plástico constitui o combustível necessário à fusão do alumínio.

Portanto, se o alumínio consegue ser recuperado, o mesmo já não se passa com o polietileno. Ademais, apesar amplamente utilizados em bens de consumo, não são materiais ecologicamente corretos: para além do seu potencial futuro como lixo, são produzidos por processos particularmente poluentes e perigosos, como mostrou o recente desastre ecológico das lamas vermelhas na Hungria, além de fortemente consumidores de energia – são consumidos 15 GWh de eletricidade para produzir 1000 ton de alumínio, o que significa que o alumínio usado nas embalagens produzidas pela Tetra Pak® em 2009 consumiu cerca de 3 milhares de GWh: aproximadamente o consumo elétrico mensal de Portugal.

Se a Tetra Pak® diz que todos os materiais utilizados na composição das suas embalagens podem ser reciclados, é evidente que os processos ainda não estão suficientemente maduros e ainda levantam muitas questões. Além de que os processos atualmente em uso são energeticamente muito pouco eficientes e alguns deles – o da queima do polietileno – resultar na emissão de gases tóxicos para a atmosfera.


A melhor embalagem para o meio ambiente é, sem dúvida, aquela que é produzida em quantidades razoáveis e é reutilizável indefinidamente, sem necessitar de ser reciclada; todos os produtos de uso único e, portanto, descartáveis, são um absurdo em ecologia.  Apenas o vidro pode ser indicado para cumprir este imperativo. Afinal mesmo que haja necessidade de o reciclar – e Portugal foi um dos primeiros países a introduzir os vidrões, reciclando atualmente cerca de 43 % das embalagens produzidas – o processo é simples e energetica e economicamente barato.

 

Fontes:

http://www.simenoamarelo.pt/1/porque-amarelo.htm

http://www.notre-planete.info/actualites/actu_2591.php, 17 de novembro, 2010, 14 h 37

http://www.tetrapak.com/pt/meio_ambiente/recolha_e_reciclagem/Pages/Reciclagem.aspx

http://www.tetrapak.com/fr/tetra_pak_france/qui_sommes_nous/espace_presse/communique_presse/Pages/chiffres_2009.aspx